Esse texto lindo foi presente da Mayra Borges, do blog Era Outra Vez Amor,
um blog que eu amo de verdade e mais que recomendo. Muito obrigada, Mayra, espero ganhar mais presentes seus pra cá, será sempre uma honra!
Fiquei mto contente, espero que se deliciem!
Eu
caminhava pela rua quando de repente senti uma mão segurar a manga da minha
camisa e qual não foi minha surpresa ao me virar e dar de cara com ela, sim,
com ela mesma. De carne e osso como dizem sem esquecer de ressaltar aqueles
olhos castanhos que me faziam esquecer os bons modos, por Deus, que olhos!
-Oi,
quanto tempo hein?_ isso foi ela com um sorriso do tamanho do mundo no rosto.
-Oi.
Verdade, quanto tempo. Por onde andou se escondendo?_ e isso fui eu me arrependendo
instantaneamente de ter dito a palavra “escondendo”. A verdade é que achei que
dizendo aquela palavra pudesse dar a impressão de tê-la procurado, não queria
que soubesse, não queria que sequer pensasse que eu não havia mudado. Cocei a
cabeça um tanto sem graça.
-Tenho
estudado, trabalhado, cê sabe, essas coisas._ela respondeu com aquela voz um
tanto rouca um tanto doce, um tanto seca, um tanto linda.
Coloquei
as mãos nos bolsos, estava começando a ficar nervoso.
-Legal._respondi,
quase gago.
Pensei: não,
não é nada legal na verdade isso é um saco. Resolvi continuar encenando,
“apenas bons amigos” Fora isso que ela me dissera antes de me quebrar em mil
pedaços? Acho que sim. Continuei calando meus gritos de indignação e fingindo
que aquele diálogo casualmente idiota e superficial realmente me importava.
Continuei com as mãos nos bolsos, segui disfarçando a vontade de agarrar aquela
mulher de beijá-la da forma mais sincera que eu pudesse, um beijo para deixá-la
frouxa e sem ar.
-E você?_ela
perguntou me tirando do ligeiro transe causado pelos meus devaneios mal
intencionados.
“-O de
sempre, tenho tocado cada dia pior. Estudado, ou melhor, tenho ido pra
faculdade dormir nas aulas e combinar de sair com umas garotas estúpidas no fim
da noite.” Pensei em dar esse tipo de resposta mal criada e completamente
sincera, mas no meio do caminho desisti editei a frase que ficou mais ou menos
assim:
-Tenho
sobrevivido, eu e meu violão._ tentei sorrir e acho que fui convincente.
-Nossa!
Você não mudou nada.
Merda, ela
havia me pego no flagra! Devo ter feito uma careta nessa hora porque ela sorriu
e desviou os olhos como se conhece aquele meu gesto há tempo, numa confirmação
muda de “Ta vendo ainda com o mesmo tique nervoso, você não mudou” sim ela
ainda me conhecia bem.
-E isso é
bom?_ improvisei.
Ela sorriu
e eu entendi que se bom não era ruim também não. E de repente eu já não
conseguia mais entender o que estava acontecendo ali. Ficamos naquele silêncio
estranho em que os olhares dizem tudo, mas a confusão é tão grande que a gente
não consegue entender muita coisa e evita encostar-se ao olhar do outro pra não
doer.
-Acho que
é isso então._disse ela, baixinho como se falasse mais para si mesma que pra
mim.
-Isso o
quê?_meu coração disparou loucamente, coloquei a mão no peito devagar, porque
tinha a sensação que a batida era tão violenta que se ela olhasse poderia ver o
tremido sob a camisa, pendendo pro lado esquerdo.
-Isso,
hora de eu voltar ao meu esconderijo e você de voltar a sobreviver com seu
violão._ela falava cada vez mais baixinho, mas sem deixar o sorriso vacilante
sumir dos lábios rosados.
“É isso?
Apenas isso? Não, não deixe que seja cara, não a deixe ir” Meu pensamento tava
mesmo gritando comigo? Será que ela conseguia ler meus pensamentos? Será? Maior
viagem e eu nem estava drogado. Os pensamentos se confundiram e eu balancei a
cabeça rápido como se o gesto fosse capaz de organizar aquela confusão. Ela me
olhou confusa, juntou as sobrancelhas e cruzou os braços como se estivesse com
frio. Respondi automaticamente:
-É, acho
que sim._ mas algo dentro de mim dizia que não deveria ser só isso.
-Então
tchau._ela disse por fim deixando o sorriso sutil sumir do seu semblante.
-Tchau._sussurrei.
E aquilo
foi tão estranho quanto o fato de não sentir frio no pólo norte seria. Acho que
doeu mais do que a primeira vez, será que doeu? Será que doeria mais ainda
depois que ela fosse embora pela segunda vez? Será? A superficialidade acabaria
me matando, precisava fazer alguma coisa, mas o quê?
Ela deu as
costas devagar como se esperasse que eu fosse dizer mais alguma coisa, e eu
senti que precisava dizer. Gritei, não era preciso gritar, ela me escutaria até
se eu sussurrasse, mas foi a força do gesto que falou por mim:
-Ei!
Ela se
virou, assentiu com a cabeça e esperou que eu falasse.
Sabe, eu acredito que existam
certos momentos na vida em que a gente tem mesmo é que forjar amnésias.
Esquecer o que houve e arriscar. Desmemoriados como a Dory de Procurando Nemo.
“Não é hora de pensar em desenho animado” alguém gritou dentro de mim, nunca
ouvi falar que o amor fosse capaz de dar conselhos, mas eu descobri que é
possível, basta precisar muito.
-O que foi?_ela me encarava
impaciente. Ela me olhava e aqueles olhos pareciam querer sugar-me pra dentro
dela, loucura!
Perguntei:
-E
se?
Ela juntou
as sobrancelhas. Eu não fazia ideia do que deveria dizer, mas sabia que
precisava dizer alguma coisa então o medo de dizer alguma merda atravessou meu
corpo como um calafrio, resolvi que se o amor queria falar, pois então que
falasse e rápido.
-Se o quê?_ela
perguntou num misto de expectativa e pressa.
Eu estava
na chuva, sem guarda-chuva, tinha mesmo era que me molhar. Conversa de doido?
Que seja, ela ia entender, ela sempre entendia. Foquei nessa incerteza e fui.
-E se eu
não quiser sobreviver?_minha voz tremeu.
-Não sei._
ela me olhava confusa, será que viraria as costas outra vez? Meu coração agora
estava aos berros e eu era um misto de tudo que há nesse mundo.
-E se você
não quiser voltar pro seu esconderijo?_minha voz se firmou de uma coragem até
então desconhecida por mim.
-O que
seria então? O que você sugere?_um sorriso largo se formou no rosto dela. E
esse foi o momento mais foda, porque aquele sorriso iluminou aquele rosto
pequeno e cheio de pintinhas marrons e eu senti como se estivesse me
apaixonando por ela de novo, mais uma vez, era essa sensação que o sorriso dela
me proporcionava, bastava sorrir pra eu me apaixonar, de novo e de novo
infinitas vezes.
-Bem, acho
que tomar algumas cervejas e jogar conversa fora não seria uma má idéia no
final das contas._cruzei os dedos dentro dos bolsos, será que ela percebeu?
-Não, não
seria mesmo.
-Então e
se?_brinquei ainda incrédulo.
-E se?
Rimos
juntos pela primeira vez em tanto tempo. E isso foi tão estranhamente familiar
que eu poderia ficar ali mesmo pro resto da vida – me apaixonando pela mesma
mulher pra sempre – e ficaria se o tempo não me obrigasse a andar.
-"E
se" é que eu não quero voltar pro meu violão agora._ eu disse, finalmente
me permitindo olhar dentro daqueles olhos castanhos com pintinhas verdes.
-Nem eu
quero que você volte._ela estendeu a mão, oferecendo-me o braço. Eu me inclinei
para enlaçar o meu braço ao dela.
Foi ai que
paramos, ali no meio da rua. Dois conhecidos e estranhos ao mesmo tempo. Quanto
tempo havia se passado? É impossível contar uma eternidade de ausência. Dois
idiotas, eu estava feliz, feliz demais, feliz de novo a história poderia
terminar aqui, mas ai eu estaria mentindo, traindo a vida real, então continuo;
no momento em que enlacei meu braço ao dela tudo sumiu e ficou escuro, um
barulho seguido por um silêncio absurdo.
E então eu
acordei, e foi estranho acordar depois daquele que tinha sido o sonho mais real
da minha vida. Vi garrafas de cerveja sobre a mesa e os cinzeiros cheios. Foi
aterrador descobrir que eu sequer havia saído do meu apartamento sem graça. Foi
a sensação mais destrutiva que senti ao perceber que tudo aquilo não passara de
uma ilusão, mais um sonho pra eu guardar na gaveta de lembranças
angustiantemente lindas. Nada passara de uma esperança infundada. Ensaiei
palavras novas, mais um roteiro que nunca viraria filme. Um roteiro para o caso
de encontrá-la por ai, mas ela não voltaria, nunca mais. E tudo que eu poderia
fazer era tentar ficar bem, como nos planos que fazíamos. Levantei, peguei uma
sacola de lixo, esvaziei os cinzeiros, joguei as garrafas, joguei tudo fora,
coloquei um casaco, fui à praia, o vento estava forte, subi nas pedras e... Olha
só o que eu achei: Cavalos marinhos.
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Adoro os textos da Mayara. É difícil isso né, essa situação do " só te quero como amigo" é bem tensa, você fica achando que a pessoa tá pensando que tudo o que voce faz é porque voce é apaixonado por ela ou algo do tipo ... e é uma faca no peito né hahaha
ResponderExcluirbeijos
barradosno-baile.blogspot.com
É amor por todos os lados, em dias assim geralmente me sinto uma pessoa melhor por saber que ao menos algo do que eu faço significa algo, agrada alguém.
ExcluirA gente vive criando ilusões, acordar é a pior parte.
Grande beijo, Amanda.
Fui lendo e lendo...
ResponderExcluirMe lembrando de paixões passadas dos momentos bons.
Eu já fiquei imaginando como seria o meu reencontro com "ele" as frases de efeito que falaria minhas ações ;
E assim como ele acordei
Tudo num passou de um sonho. Que na realidade se tornou um pesadelo.
Um Puta Post!
É bom suscitar lembranças nas pessoas, mostra que o texto tem uma consistência e que de alguma forma tem fragmentos de histórias reais.
ExcluirNo final eu só posso dizer que seja sonho ou pesadelo hora ou outra a gente acaba acordando, só há uma coisa da qual não podemos fugir: a realidade.
Grande beijo. Nathalia.
Raquel, eu sei que já disse, mas digo de novo e só´não repito umas trocentas vezes pra não ficar cansativo. É um grande prazer ter um texto meu aqui no teu cantinho. Eu não considero isso aqui um blog, tem sentimentos demais pra ser apenas um blog, isso aqui é parte de alma, de coração de afeto.
ExcluirMuito obrigada por me permitir participar aqui, é uma alegria sem tamanho e reitero que será um prazer ter mais posts seus lá no Era outra vez: amor.
Beijos, querida.
www.semprovas.blogspot.com