sexta-feira, 26 de março de 2021

Sinal vermelho

 

Não temos tempo a perder! Levanta, você tá atrasada, aquele projeto precisa ser entregue na quarta! Até porque faculdade não se paga sozinha. Por falar nisso, já terminou de ler os textos?

Ah, esquece esse áudio do seu namorado, tem mais de 40 segundos, depois você responde. Vai assim mesmo, põe qualquer roupa, você precisa ser mais prática, esqueça os detalhes. Toma, leva isso pra comer, é bom que você consegue economizar tempo e terminar aquele outro projeto paralelo que você começou. Ah, vê se não se atrasa pra buscar seu filho, da última vez você deixou o menino esperando 20 minutos.

E vamo emagrecer, né? Olha esse bucho! Você tem que aprender a organizar seus horários.

Sério que você não respondeu seus amigos? Mas eles te mandaram mensagem semana passada.

E aquele livro que você comprou há meses e ainda nem sequer abriu? Repito, organize melhor seus horários que vai dar tudo certo. Assista filmes na velocidade 2x, faça duas coisas ao mesmo tempo, ou três… procure resumo das coisas, isso é otimizar seu tempo.

Esse final de semana, infelizmente, você não vai poder visitar seus pais. Eu sei que eles estão com saudades, mas você já viu como tá sua casa? Tá parecendo um cativeiro! Sem contar que você precisa passear com seu filho, você mal da atenção pra ele. Inclusive eu vi que sua amiga viajou com os filhos dela semana passada pra Paraty, por sinal, parece ser uma excelente mãe. Ela tem um corpão né? Maravilhosa!







domingo, 3 de fevereiro de 2019

Não se tocou que você é dela?



De repente chega uma mensagem no seu celular que faz acelerar seus batimentos. “Tudo é alheio nem fala língua nossa” dizia a mensagem. Era ela recitando trecho de um heterônimo de Fernando Pessoa que ele tanto ama. Ele não sabia o que dizer em seguida, e atordoado mandou um “oi” insosso, completamente fora de contexto. Segundos após, leva a mão à cabeça e se acha um idiota.  Ele não é assim, tem bastante traquejo com o sexo oposto, mas ela... Aaah, ela mexe com seus sentidos de um modo que o faz parecer um adolescente casto.
Ela segue a mensagem seguinte... “O dia tá frio e não estou afim de ficar sozinha em casa” ele então sugere “quer sair?” e novamente leva a mão à cabeça. Ele tá perdido, não consegue captar os sinais mais óbvios. E irônica como sempre diz ela “ah... eu acho que sair não era uma opção em pauta” seguido de um direto “Vem logo pra casa! Entre sem bater”. Ele se arruma desesperadamente e parte.
Chegando lá ele a encontra numa rede na varanda. Ela está completamente despojada. Com uma caneca de café as mãos e um moletom largo que cumpre a função de camisola, deixando apenas as pernas douradas do lado de fora. Um lápis prende os lisos e escuros cabelos, um Saramago repousa sobre um banco e um olhar poético para o horizonte faz o desfecho do cenário. Ele acha aquilo sublime, diferente de qualquer recepção que já teve.
Antes de ele chegar à varanda ela diz pra ele buscar alguns petiscos em cima da mesa e lhe oferece café. Em seguida ele se senta acuado em uma das cadeiras no canto da varanda. Ela está no comando, e senhora da situação, chama ele para sentar-se na rede com ela. Ele tem um leve espasmo de susto, mas vai...
Ele está irreconhecível! Aquele cara, que do jeito mais natural do mundo consegue conquistar a mulher que bem deseja, está nas mãos dela e ela sorri da situação e brinca com os sentidos do moço. Em determinado instante ele começa a se soltar, a ficar mais à vontade, se ambientando... eis que então, repentinamente ela o fita com seus olhos negros e diz “vamos ver filme na minha cama” puxa ele pela sua mão e sente que ela está gélida, pois essa informação o fizera ficar assim, e novamente o moço parece um jovem adolescente.






                                             Ela se joga debaixo e ele se deita por cima do edredom. Ela então provoca “Venha! Afinal de contas embaixo do edredom cabem dois”. Ele então entra debaixo sem conseguir sequer olhar pra moça. O filme começa a rolar e entre uma cena e outra ela faz comentários que o fazem entender que o momento que ele tanto desejou se avizinha. Eis que ele ousa aproximar seu corpo do dela e sente que não há rejeição da outra parte. Então ele arrisca encostar “sem querer” um dos seus pés no dela e ela ainda continua sem rejeitá-lo. Agora se fez a hora de aproximar uma de suas mãos da dela. Ela sente a aproximação, sorri intimamente e em seguida olha pra ele e diz: "Acho que já deu por hoje né? Muito obrigada pela companhia, você é um fofo!" Ela o leva até a porta e dá um beijo em seu rosto, dispensando o rapaz. Ele, do lado de fora, volta pra casa sem entender nada, mas estranhamente mais apaixonado ainda. Ela... Bom, ela abre um bom vinho chileno, solta seus cabelos, põe Nina Simone no toca disco e se joga no sofá.

segunda-feira, 31 de dezembro de 2018

Castelo de areia e uma pitada de concreto


Ela agora está deitada na cama, letárgica, sem reação, com um litro de vinho barato em uma mão e um beck na outra. Os olhos estão esfumaçados, numa mistura de maquiagem e noite mal dormida. Ela olha para o teto mas não o enxerga, seus olhos estão para além dele, não se sabe o que se pensa, mas se sabe que é um pensamento visceral sobre sua chegada àquele estado que se encontrava no momento.

Seu corpo está marcado por símbolos que ela não mais acredita, por batalhas que não mais encampa. Carrega uma casca pesada que nem ela mais aguenta. Seus cabelos com mexas coloridas completam a personagem que ela idealizou como sendo a melhor forma de se viver, mas que na verdade só busca esconder o que de fato passa nos seus mais profundos sentimentos.

Ela não está feliz. Não está feliz porque atingiu a sua personagem tão desejada e ainda assim se sente “incomodada”, é esse o eufemismo que ela se utiliza para não mencionar a palavra “vazia”. Mas já não adianta mais, ela já correu muito e está prestes a dar com a cara na parede, é hora de parar de fugir de si. Mas do que ela tanto foge? O que dentro dela é tão sombrio que ela não encara de frente? Essa é mais uma demonstração de que a personagem forte, de dedos sempre em riste, que fala palavrão, que é uma rocha inquebrantável já não aguenta mais assumir esse protagonismo na sua vida, e que agora é a hora de lavar a cara, apagar a personagem e assumir as rédeas da sua vida, e isso lhe atormenta de modo abissal!

Mas sente- se um pouco com ela e fale sobre fotografia, cinema e anos 80, fale sobre o parque que seu pai a levava quando criança, fale pra ela das noites que ela sentava- se à mesa da cozinha olhando com admiração a sua mãe como sendo o ser mais poderoso entre todos os mortais. Se fizer isso vai notar uma mudança inexplicável do seu olhar cinza, pra um brilho jamais visto antes em qualquer olhar. Pois ela é uma menina que ainda acredita no ser humano, é uma eterna otimista incorrigível! É empática, ama a beleza do desabrochar das flores, gosta de pisar na grama e de sentir a areia da praia entrando entre as frestas dos seus dedos enquanto fecha os olhos e sente a brisa do mar bater em seu rosto.

Nesse momento ela sente a vida fervendo no sangue e lembra de todos seus objetivos, do que lhe move e do que faz sentido na vida pra ela. Não são as noites sem fim, não é sua compulsão por sexo, não é o uso indiscriminado de álcool. A vida dela era doce, a vida dela era leve, mas como sempre, em nossa eterna mania de sintetizar e soterrar tudo aquilo que somos por algo que não acreditamos e que são muitas vezes impostos, nos tornamos seres desfigurados e sem motivos de existir. 

terça-feira, 25 de julho de 2017

Renascer aos 30

Imagem retirada da internet

Aos 20 precisava me conhecer, saber quem era e o que me movia, e foi um verdadeiro presente que a vida me deu, a fase mais saborosa de todas, que devorei com cada sentido do meu corpo, instante após instante. Visão, tato, olfato, paladar, audição... Cada segundo se abria diante de mim cheio de novidades que faziam cada poro arrepiar, que davam sentido a tudo, me contavam o segredo do (meu) universo.

A experiência mais incrível foi poder conhecer e aproveitar essa Raquel de vinte anos, tão intensa, tão disposta e jovem, aberta até mesmo para ver sangrar o coração e a alma.
Agora aos 30 ela se foi e outra tomou o seu lugar, outra que precisa ser conhecida e descoberta, em nuances diferentes.
Aos 20 as paixões eram de arrancar pedaços de carne, doiam e se não fossem assim, não valiam a pena. Marcaram pq tinham que marcar e tinham que deixar suas lembranças para que a de 30 pudesse ter um guia, uma pista de onde começar.
Na casa dos vinte anos o tesão é liquido, escorre pela perna,vira ilusão, amarga e morre. Depois dos trinta a coisa muda bem de figura.
Bem me lembro que , aos vinte, o amor perfeito existia quando durava uma só noite e desaparecida sem pistas no ar. Acabava antes de começar a vida real, logo após um tour pelo belo corpo firme e jovem... 
E aos trinta? 
O amor se revela em toques únicos é uma leveza incomparável, pq ele anda junto a liberdade. Aos trinta a gente sabe que pode (e consegue) amar e deixar ir, aos vinte não.
O amor dos trinta não tem regras e por isso ele não tem fim, por isso ele envolve todo o corpo, a mente e a alma.
É poder beijar como quem aprecia um vinho, é deixar se tocar como quem conta um segredo, é explodir em gozo e tesão sem precisar desesperar, só apreciar. E é aí que está o início do novelo da redescoberta. O combustível.



domingo, 21 de maio de 2017

Pedaços

Imagem retirada da internet





Pensei que depois de certa idade eu transbordaria, que tudo ia ser sobra e rebarbas de todo o exagero que só uma canceriana consegue sentir em toda a sua juventude...
Acontece que não... Pelo contrário.
Depois de tanta fome, tanto tesão... Me sobra um vazio imenso.
Uma falta de mim mesma, um pedaço da alma que não sei se perdi ou se nunca tive... Mesmo depois de tanta cicatriz,de tanto corte fundo (estes que jurava que fariam parte de mim). Hoje me sinto flutuando, papel em branco, sem vontade, sem ousadia. Parece que fui e me deixei aqui, corpo ,gozo e lembrança.
Não estou, não acredito e não sinto.
Assim mesmo sem destino algum. No mar a deriva.
E aí não consigo mais nem perder, não consigo sentir e nem inspirar.

O que restou? Onde estou? Do que preciso?


quarta-feira, 17 de maio de 2017

Depois de tanto tempo...

Depois de dois anos sem mexer nas coisas velhas, sem andar nas ruas erradas, sem reabrir feridas, sem chorar mágoas, VOCÊ me aparece de novo. Não pedi pra sair, nem revirei minha vida pra ter que te rever de novo.

Minha vida já não é mais a mesma, mudou num nível que nem mesmo um filme, um livro dariam conta de explicar e você me aparece agora pra reavivar coisas que deixei pra trás, pra me lembrar de gostos, cheiros e sensações que preciso mais. 

Há dois anos atrás minha cor era outra, minhas vontades falavam mais alto que qualquer outro desejo racional que pudesse ter. E acho que nem tinha desejos racionais, eu era só desejo, só luxúria. Você não poderia ter voltado agora que estou num mar de calmaria, num jardim em que só a brisa passa. Não digo que tudo são flores, não isso mesmo, mas comparado a antes eu estou muito bem. Muito melhor...  Não era pra te rever agora. Agora que minha aventuras são passadas nas tarde de sol e não mais nas madrugadas ardentes ou decadentes de antes. Não tenho mais histórias dramáticas pra te contar meu amigo, apenas anedotas sobre o conserto do microondas ou aquela vez que no banco...Nada mais de emoções ardente como antes, agora, são apenas aventuras cotidianamente normais..Quem sabe daqui a alguns anos tem encontre novamente e tenha outros humores e outras cores.. mas por enquanto ta tudo assim, meio azul, meio cinza...

sexta-feira, 15 de julho de 2016

3 vivas para o FODA-SE


Aos 20 a gente luta bravamente ,com lindos textos e palavras tocantes por todos aqueles que nomeamos amigos.

Aos 30 a gente percebe que nem todo mundo precisa ficar pra sempre. E que nem todo mundo vale esforço, um textão, uma tristeza no coração.

Se não vale a pena, a gente simplesmente deixa ir.

Não faz sentido se desgastar e ficar triste por quem não vê sentido em se esforçar por vc, quem te deixa triste e acha que ta tudo bem, que  sabe que te magoou e mesmo assim está com a "consciência tranquila".


Deixe ir. Porque tem hora que argumentar cansa, que tentar entender e perdoar fica fora de questão. Então acaba uma amizade assim, na merda, sem respeito, sem jeito, sem gosto.

O resto a gente responde com silêncio.

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