domingo, 28 de junho de 2015

Tristeza, entorpecentes, poemas e etc

Sentado na poltrona da sala acendi um cigarro, dei um primeiro trago e pus-me a divagar sobre o que escrever. O papel e a caneta se encontravam a minha frente e esperavam ansiosamente que eu os assumissem e derramasse toda minha tristeza sobre eles(sim, pois todos que se atrevem a escrever são tristes, indispensavelmente). Porém, continuei a olhá-los sem saber por onde começar. A tristeza estava presente como principal elemento para o desabafo e a reboque a reflexão do meu mundo, só que nada e tudo me veio a cabeça. É como se eu tivesse todas as ideias possíveis, porém elas são bloqueadas por si mesmas.

Logo em seguida o segundo cigarro já estava a boca. Dessa vez acompanhado de um Uísque vagabundo, mas altamente embriagável, que era o que de fato importava. Uma luz sutil me veio a mente. Num ritmo blasé saí do recosto da poltrona, estiquei meus braços e tomei os papéis e a caneta, postos a mesa de centro, em mãos. Acendi a luminária em cima do criado-mudo ao lado da poltrona, pus meus óculos e iniciei a escrita. As palavras saiam, voavam, me tocavam, se tocavam, mas no instante seguinte tudo novamente desaparecia.

Eu não escreveria nada se não houvesse algo me colocando contra a parede e contra a minha vontade(ou não?) Para as hipérboles, metonímias, ironias ou qualquer outra figura de linguagem, mas ali estava eu, precisando desabafar e tendo apenas os papéis e meu cérebro pra tanto. Pessoas não me eram quistas no momento. Tem horas que pessoas são completamente dispensáveis e que chegam a ser um estorvo para determinados sentimentos momentâneos. Então era eu, minhas ideias, os papéis, um segundo copo de uísque, um terceiro cigarro e uma busca incessante, e sem sucesso, pela inspiração.

Após muito morder as hastes do óculos como expressão de pensar em algo para por no papel, comecei a escrever sobre minhas complexas desilusões amorosas, mas estava tomado por uma racionalidade indesejável e asquerosa que me fez cessar a escrita. Às vezes acho que a razão é a coisa mais triste que o ser humano pode ter. Agir 100% com razão te faz perder a essência da vida, você deixa de ser humano e passa a ser qualquer coisa, menos humano.


Já que estava sem inspiração pensei em escrever qualquer coisa que não houvesse relação necessária com a bendita da inspiração. Comecei a escrever sobre a geopolítica na América latina, mas depois notei que isso não fazia o menor sentido, foi a coisa mais descabida que já tentei escrever na vida, não condizia com meu estado de espírito do momento.O desespero para que algo saísse no papel era tão grande que qualquer coisa que pudesse parecer reconfortante era bem-vinda, mas não era o caso, então cessei a escrita novamente.

Pois bem, outras ideias surgiram e comecei a escrever, porém a escrita era tão chula com termos tão horríveis, que pedir desculpa pro papel por tê-lo usados de forma tão obtusa foi considerado necessário por mim.

Quando já estava no sexto cigarro e com um certo nível de embriaguez, as coisas começaram a fluir. Veio todo tipo de pensamento possível e nobre. A escrita era bela, meus olhos brilhavam ao escrever na sala iluminada apenas pela luminária. Não existia mais nada além de mim, do papel e da inspiração. Eu juro que viveria assim eternamente, sem precisar de mais nada no mundo. O gozo, a sensação que se tem no momento é de êxtase, de encontro com outro plano espiritual. Na minha escrita eu gritava, saltava, dançava, corria, pulava… Era um ponto de felicidade que lutava para emergir em meio a um mar de tristeza.

Assim, a última canetada pôs fim ao texto, e com uma releitura básica do que foi escrito, um alívio enorme pelo desabafo e um sorriso tímido no rosto, levantei-me da poltrona e segui cambaleante em direção ao quarto. O que foi escrito não é de fato importante, o que vale é caí na cama, joguei o papel e a caneta não sei onde e dormi como nunca antes. Ao acordar não achei mais o bendito texto no papel, porém pouco me importava, ele já não era mais necessário pra mim.

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