quinta-feira, 10 de abril de 2014

Olá!


 Às vezes me pergunto o que se passa na cabeça daquela pessoa anônima, aquela pessoa que vejo todo dia na esquina de casa entregando folhetos de loja, de dentista. Daquela moça que fica atrás de um balcão, surrado pelo tempo, de um estabelecimento que possivelmente eu nunca entrarei em nenhum momento da minha vida, daquela pessoa que praticamente todo santo dia eu a encontro no ônibus e nem um “oi” sequer eu dou por uma série de motivos: porque talvez eu tenha algo mais “importante” a fazer, ou porque eu estarei ouvindo aquelas músicas que eu adoro e que são mais “interessantes” que a pessoa que está ao lado, porque tenho receio de ela não estar num bom dia pra uma conversa ou porque tenho receio dela ter receio da minha aproximação sem propósito claro, enfim…

Eu em muitas ocasiões já me peguei pensando: Quantas pessoas de importância ímpar eu deixei passar na minha vida até agora em função disso? Talvez um amigo que atravessaria eras comigo, talvez a mulher de minha vida, talvez alguém sem muita importância, talvez a pessoa que iria mudar também, de uma outra forma, definitivamente o rumo das águas.
Mas o mal principalmente de nós, moradores de grandes cidades, está em transformar todas essas pessoas em extensão da paisagem cinza desse ambiente que vivemos sem nem ao menos ter a vontade de saber seus pensamentos políticos, seu time de futebol, seus medos, seus anseios, e por assim ficamos. Tal como fazemos com moradores de rua que nem sequer conseguimos mais sentir piedade deles, ou talvez porque esquecemos o que é isso.

De certo também não incentivo, sob a égide da prudência, sair falando aos montes com aquele que nunca vira antes, em função risco que presumo que saibam, porém também não sejamos como engrenagens que tem contato apenas com seu entorno e nada mais, ou às vezes nem com seu entorno, já que no meu caso, por exemplo, não conheço nem meus vizinhos de porta o que pra mim é desesperador.
E se aquela pessoa não mais aparecer? Sim, se de repente você já não mais vê-la? Vai se perguntar o porquê de sua ausência? "Será que mudou de emprego? Será que conseguiu um...?" ,"Será que mudou de cidade? de bairro?", “Será que se casou?”, “Será que já não existe mais em vida?” ou pior de tudo, notará que ela já não cruza mais seus caminhos ou que um dia ela existiu?
E porque esse comportamento se repete cada dia mais com mais frequência? Estaríamos supridos de pessoas em nossas vidas e em função disso a carência já não existe mais? Pouco provável. As redes sociais estão ai pra mostrar ávidas pessoas que necessitam de uma conversa, de uma companhia mesmo que pela luminosa tela do computador. Mas o que mais me intriga, e que talvez eu esteja ficando velho pra entender esse pensamento, é essa busca por pessoas que é cada vez mais virtual e menos pessoal, física, do olho no olho, isso no meu pensamento, talvez arcaico, só me faz crer que as relações sociais e afetivas estão cada vez mais distantes, frias, em cidades cada vez mais frias.


Estamos cada vez mais
“entocados”, tomando menos sorvetes na rua, menos sol no parque, na praça, na praia, jogando menos bola nas vielas, rindo menos... Em suma: Diminuindo bruscamente um ritmo que me soa muito saudável.
Mas quem sabe
os tempos sejam outros? E diante dessas questões me pergunto: Estou ficando velho? utópico pros tempos atuais? ou será que estou ficando humano?


Confissões de Bar no Face!

4 comentários:

  1. Eu Sabia que tinha um toque masculino nesse texto.
    Na maioria das vezes que venho aqui encontro os textos da Ludi. Mas ler o seu, logo pensei: É um homem hehehe

    Sobre o post: Eu Acredito que tudo leva a desumanização.
    É muito mais comodo tomar soverte com os amigos no skype ( hahaha)
    Acho isso um tanto triste.
    Toda essa tecnologia anda me fazendo mal. Por conta disso fugo dela, começando pela celular ainda em JAVA sim.. em java não tenho whatsapp entre outras coisas kk

    Terminei um post agora pouco que é uma junção do seu pensamento!...

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    1. Olá, Natalhia! Sim tem um ser masculino escrevendo por essas bandas hahaha. Mas nós raciocinamos de forma tão semelhante que às vezes só da pra se distinguir um texto do outro pela forma da escrita de cada um que é muito peculiar. rsrs.
      E sobre o Post eu luto e reluto contra a ideia da desumanização das pessoas, mas não posso deixar de concordar um pouco contigo. É triste e cômodo de fato e essa comodidade está sendo o câncer da sociedade moderna. Todas essas ferramentas tecnológicas como a internet que poderíamos utiliza-la para melhorar nossas relações sociais, quebrar preconceitos, conhecer melhor o diferente, o outro, é cada vez mais utilizada para o culto de si e do ódio ao próximo. Mas ainda tenho um pouco de fé na humanidade, um pouco,mas tenho. rs

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  2. Muito bom o texto, identifiquei-me com suas palavras!! Esses dias voltando do trabalho comecei a rir da brincadeira de 3 amigos no metro, comecei a conversar com eles e fico sabendo que eles trabalham no ramo que sou formada, em suma, o que iniciou com uma risada, resultou no envio do meu CV para uma empresa...esse ocorrido me fez lembrar quantas vezes tive vontade de rir, interagir e não tive coragem...sinto que a família, a sociedade e n'os mesmos colocamo-nos travas, que impedem esse contato humano tamb'em, não s'o a tecnologia...e isso nos impede de conhecer o novo, de nos lançar a novas oportunidades, propostas enfimmm...vlwwww

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    1. Muito obrigado pelo elogio... Esse episódio que você vivenciou foi o que me motivou a escrever esse texto, pq já aconteceu muito isso comigo. De deixar de conhecer uma pessoa em função das minhas amarras sociais, de comportamento, do "não vou conversar com ela,pois o que será que essa pessoa vai pensar de mim se eu fizer uma abordagem a ela?". Tudo isso, fora esse ritmo mecanizado e naturalizado por um sistema, pelo modo de produção ao qual estamos sujeitos(eu acredito mais nessa hipótese, pois creio que a família e a sociedade está subjugada as vontades do sistema rs) nos faz tornarmos mais frios com amigos, com a família, com uma pessoa que acabou de sofrer um acidente e consigo. Enfim... mundo cinza, obscuro

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