Nova versão, velho filme...

Foi exatamente assim, do mesmo jeito, mudou a cor dos olhos, acho, mas o resto... seguiu o mesmo roteiro, era fatal que seguisse pelas mesmas avenidas e o sentimento fosse igual ou muito parecido.

Tudo bem, não tinham a mesma altura, as coisas externas eram distintas, só que acabava sempre nas mesmas desculpas e o mesmo objetivo: tardes frias enchendo a cara dela pra poder levá-la pra cama, noites quentes de satisfação mútua e depois rua, linha, mundo e possibilidades de deixá-la pra lá.

Quantas vezes ela assistiu aquele mesmo amanhecer esperando a hora de ficar sozinha e organizar as lembranças, prometer que aquela vez seria a última? Quantos dias seguintes (e seguintes dos seguintes) se passaram e era sempre assim... sempre assim...

Dai enchia a cara e falava com as paredes do quarto sobre como é linda aquela felicidade momentânea e da esperança que não fosse só sentida por uma parte (no fundo sabia que era mesmo só uma parte, a dela), mas quando se dava conta estava na frente do mais novo casal feliz da cidade de São Paulo, postando fotos instantâneas com a maravilha do advento da Internet, compartilhando sorrisos e dias de sol que ela sonhava em ter no lugar daquela de sorriso largo... e ela ficava ali, olhando a felicidade dele (ou deles). É, sempre assim, ela sabia que nos créditos o seu nome ficava embaixo de um monte de outros que nem eram tão brilhantes assim, o final feliz não mostrava o quarto dela, nem falava dela!
É pq também nem interessa passar uma moça na cama, em posição fetal, ouvindo "That I would be good" da Alanis, vez ou outra enfiando uma colherada de brigadeiro na boca com o rosto cheio de lágrimas e aquela imagem da felicidade que não é dela na cabeça (já nem se lembrava mais da felicidade boba e simples que sentiu, aquela que sequer foi fotografada, naquele único dia ao lado dele). Pra que mostrar essa infelicidade toda, se tinha um casal feliz pra ser o foco da história? Pois é. Fim de filme. Ou não?
Outro personagem, outras poltronas, novo balde de pipoca, outras taças de vinho e... o mesmo roteiro tosco, o mesmo final clichê e o papel... sempre o mesmo, o quinto nome na subida dos créditos (quando mto). Logo no início da trama ela até desconfiou, mas achou pouco provável, o diretor não era o mesmo, os atores já estavam maduros e experientes, já não contracenavam tão mal, não era possível, era?
NÃO, NÃO, NÃO, NÃO!!! PARA TUDO, PARA ESSA MERDA, PARA! Que tédio, muda essa porra, tira isso, ninguém aguenta mais!
Que kct, será possível?
E foi la, quando deu o play na Alanis que ela entendeu. Não, não e não. Mil vezes não e chega!
Já não era mais azar, já tinha passado da idade de reclamar de fatalidades, já tinha tomado tanta porrada que seria vergonhoso se ela não tivesse esse START (de apertar logo o OFF), se deitasse mais uma vez em posição fetal, assinaria seu atestado de gente que não quer evoluir na vida, estaciona e fica.
Foi então que respirou fundo e fez as malas, desligou o filme, aquele romance era clichê de mais pra ter atenção dela. Pra quem já teve medo de desligar o filme uma vez (e o fez forçosamente), desligar uma segunda, ainda no início, era simples, era só querer!
Melhor não ver filme nenhum, melhor ficar no silêncio, melhor pirar de vez e ver o filme que quiser mesmo que na cabeça, melhor...

Não sei se foi a cidade ou se foi ela... sei que anoiteceu e assim ela se foi. Já não tava mais aqui, não tava nem aí! E claro, tava em outras!
Dai ela se lembrou da época em que ouviu certa música e que dizia mais ou menos que ser feliz era uma questão de escolha. Claro pow, tava na fuça o tempo todo, ela não entendeu nem como chegou aos 45minutos de filme. E até se sentiu bem, sorriu, ouviu música, dançou descalça.

E seguiu a estrada que nem sabia onde ia dar, mas era melhor que a cama e a posição fetal e todo aquele mimimimimi...

#praputaquepariuessahistória!
Fui...

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