segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Colcha de retalhos



"Não se afobe, não
Que nada é pra já 
O amor não tem pressa
Ele pode esperar em silêncio
Num fundo de armário
Na posta-restante 
Milênios, milênios
                                                     No ar..." - Futuros amantes - Chico Buarque


O amor não entende nada da vida, ignora completamente a existência do tempo e passa por onde ele acha que tem que passar.

Como a dança das ondas do mar, o tempo pode trazer de volta aquele espectro que um dia foi de carne, osso e desejo, cuja história tanto fincou na alma, que deixou uma inquietude e um pesado ponto de interrogação. E nós que fomos feitos pra viver desses pequenos milagres, desse conjunto de encontros e reencontros, que para a nossa história nem sempre parece que vem na hora certa, nem sempre parece que vai na hora certa, nós vamos dançando essa vida, muitas vezes a contragosto, patinando o tempo todo na saudade.
Quantos de nós vivemos um amor que a vida afastou por um milhão de motivos, e não importa qual deles foi, pois o tempo nos dá a ilusão de que nenhum deles poderia fazer sentido, nenhum deles nos é convincente o suficiente? Quantos de nós? Amamos sós, o peito estufado de êxtase de ter dormido uma noite naqueles braços, vai se esvaziando pouco a pouco pelos anos que passam e levam a presença dos braços, pernas e lábios, levam as notícias, as possibilidades e até mesmo o nome, que é pronunciado pelo coração com um aperto que só quem ama de longe sabe.
Agora... Também existe algo que quem ama de longe não sabe, desconfia por tanto amar sozinho, mas não tem certeza... O tempo faz colchas de retalhos juntando presente e passado, amores e desamores, sabores e dissabores e causa uma surpresa que se revela em uma paz de espírito sublime, que só quem amou de longe e atravessou os anos sem conta, viveu o looping da vida, só quem viveu isso, com o tempo, só ele sabe disso.
Vc pode duvidar das minhas palavras se quiser, mas até a sabedoria popular nos conta que " o amor faz coisas que até mesmo Deus duvida!". Não fui eu quem inventou, não é frasco de xarope contra paixonite feito com procedência duvidosa. É o tempo, e só ele quem dissolve.
Porque não importa qual o sentido fazia a história, quantas coincidências alimentaram seu amor solitário, quantas pistas que seu coração juntou sendo reais ou falsas... Quando o tempo nos traz o milagre da solução, como se alguém te desse um abraço de repente e seu coração dissesse finalmente ao seu corpo: "relaxa, não estamos mais em perigo!" , o alívio é imediato, pouco importa em quantos cacos vc foi quebrado.
Dói e desdói. Podem terminar com uma conversa idiota por causa de um encontro corriqueiro e desajeitado num terminal de ônibus, por exemplo, num supermercado, num posto de gasolina, em uma exposição de arte... Num daqueles encontros estúpidos que nos pegam de súbito, desprevenidos de qualquer frase de efeito ou autodefesa. Encerram com o olhar (muitas vezes um olhar por baixo dos óculos de sol, negando qualquer intimidade que já tenha existido) , mas que diz tudo para que só então cada um possa finalmente desembaraçar do mal resolvido e seguir pra longe. Acabar.
Dissolve depois daquelas expectativas devastadoras de reencontros em que se imagina que será dito cinco milhões de coisas tão profundas, quase que vomitadas, mas tão profundas que não nos damos conta, na nossa angústia do amor solitário, que são sentimentos que jamais poderão ser descritos ou ditos ou nem mesmo explicados. Vc amou sozinho, e não há palavra que vire flecha para que o outro seja atingido e entenda exatamente como foi. Mas há o olhar, esse sim dirá algo parecido com "foram anos! E eu não deixei de te amar por um instante sequer!" , sem dizer palavra alguma, mesmo que por trás de um par de vidros escurecidos. O resto se desfaz de uma maneira tão eficaz que não parece nem que foi tão intenso por tanto tempo. Reduz a pó, mas um pó da paz.
Histórias de amor verdadeiras atravessam a alma e vão la brincar no parque de diversões do tempo.

Post feito inspirado na peça que assisti ontem, chorei litros e mais litros... "O convidado surpresa".

Confissões de Bar no Face!

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