segunda-feira, 10 de fevereiro de 2014

O amor tem forma?




"(...)mas, meu amor, você já me salvou. Você me salvou de um mundo estabelecido sobre os preconceitos e morais absurdas, para me ajudar a me realizar plenamente. (...)  O amor é abstrato demais, e indiscernível. Ele depende de nós, de como nós o percebemos e vivemos. Se nós não existíssemos, ele não existiria. E nós somos tão inconstantes... Então, o amor não pode não o ser também.
O amor se inflama, morre, se quebra, nos destroça, se reanima... mas reanima. O amor talvez não seja eterno, mas a nós ele torna eternos..."


Azul é a cor mais quente - Julie Maroth - 

Preconceito é algo que eu sei que existe, eu entendo que está por todo lado, que cada um de nós tem algum tipo de preconceito, eu vejo, as pessoas tem "medo", repudiam o que é diferente, ouço em muitas histórias, ouvi alguém dizer que fulano sofreu algum tipo de preconceito em certa situação bizarra, eu lido profissionalmente com acontecimentos históricos, tenho que tentar analisá-los de certa maneira, e consigo entender como certas formas de pensamentos e determinadas condutas morais vão nascendo e tomando conta... No entanto... ler sobre, saber sobre, entender sobre, ouvir falar sobre, enxergar próximo, mas superficialmente não é algo que seja de fato um tapa na cara.
Tapa na cara é quando você vê alguém que ama tanto tendo que ouvir absurdos em relação a sua vida amorosa e intima e não poder fazer muita coisa pra defender. Tapa na cara é você ver que as pessoas acham que tem de haver uma forma certa de amor, desrespeitando e magoando, marcando profundamente a vida de pessoas que estão perto e que você ama. Tapa na cara é ver um preconceito em relação ao amor, dentro da sua própria família. Dói. Parece que não, mas escutar certas coisas dói.
Esses dias me doeu ouvir uma prima dizer que queria levar a namorada pra conhecer a mãe, mas a mãe disse que não queria conhecê-la pq não conseguiria imaginar as duas transando (!), no mesmo dia em que ela me contou isso, pude presenciar a opinião do pai dela ( que não sabe que ela é gay ) a respeito das coisas que vinham acontecendo na novela, na tv, no mundo, etc... Doeu ouvi-lo dizer que essas coisas eram "sem vergonhice" e ter de ficar calada para não expôr a minha prima, uma das minhas melhores amigas, que amo muito e significa muito pra mim.
Eu sou hétero, é como me rotulam por ai por eu me atrair por homens, o que dizem que é a única forma de amor aceitável, nunca sofri preconceito por beijar um cara na rua, nunca precisei ter medo de andar de mãos dadas por aí, nunca me policiei para passear em certos lugares, mas não frequentar outros, eu posso levar meu namorado pra minha família conhecer, posso amar e gritar ao mundo que amo, posso me deitar ao colo dele no parque, deitar no ombro dele no cinema, posso dar comida na boca dele na praça de alimentação do shopping e nada será dito... eu achava absurdo, desumano, bizarrice quando ouvia alguém contar casos de "homofobia" (detesto esse termo, pois, não se trata de fobia, se trata de intolerância -como resultado vemos comportamentos iguais aos dessa notícia em vermelho -- e desrespeito, pra dizer o mínimo), tenho alguns amigos gays, bi, pam, héteros, etc. Mas apesar de achar desrespeito e pura ignorância toda a forma de preconceito que os moralistas de plantão insistem em alimentar, eu nunca pensei que fosse doer. DOER, presenciar esse tipo de coisa. Não foi comigo, mas doeu como se fosse.
No mesmo dia em que encontrei a minha prima e ela me contou essa história, e presenciei a que acabei de lhes contar, ela também me emprestou esse livro: "Azul é a cor mais quente".
O livro em forma de quadrinhos conta a história de Clémentine desde os seus 15 e vai narrando toda a  sua trajetória de aceitação em relação a sua atração por mulheres... Não gosto de fazer resenhas e críticas quando recomendo algum livro aqui, não sou nem um pouco boa nisso... mas é simplesmente um livro fantástico, que todos nós deveríamos ler (principalmente as pessoas que nutrem algum tipo de preconceito em relação ao amor livre de regras e leis de uma moral hipócrita...), para refletir o quanto a interferência da minha, da sua, da nossa opinião pode afetar a vida, a liberdade, as escolhas, a paz de espírito e a felicidade das outras pessoas.
A narrativa aborda a questão da própria aceitação e da aceitação dos outros... e acho que é válido incluir esses quadrinhos na lista de leitura.
Assisti ao filme como o mesmo título essa semana, e embora seja baseado no livro, contando uma história parecida, não me agradou tanto quanto o livro (vc vai me dizer:" é óbvio, né...dãr!"), não vi o filme abordar os assuntos tão polêmicos em relação ao preconceito tanto quanto o livro, que parece ser algo mais intenso e sentido. O filme é um romance sem uma grande problemática--- na minha opinião, não que eu seja crítica de cinema e entenda de filmes franceses, longe de mim rs, apesar de polêmico por contar cenas de sexo de quase dez minutos, a história não se aprofunda tanto no drama que o livro traz... só não gostei tanto do filme.
Fica a dica não só de leitura, mas principalmente de reflexão. Até quando vamos continuar reproduzindo discursos e ferir aos outros em nossa volta?
Segue também um vídeo que assisti ha uns 2 anos atrás ou mais, espero que gostem, ta em inglês,mas não é uma leitura difícil:




2 comentários:

  1. Entendo bem que azul seja a cor mais quente, já pintei meu cabeço de azul azul mesmo, fiz questão de comprar tinta gringa e o cacete, e muita gente já saia falando que eu era isso ou aquilo só pela cor do cabelo, um bando de babacas. Mas realmente cabelo azul é foda, eu gamo na hora rs... tenha um bom fim de semana bj moça

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