sábado, 14 de dezembro de 2013

Simplesmente Gonzaga



Numa cidadezinha que atende por nome de Exu, no pé de serra do sertão pernambucano, onde seu povo vivia uma vida sofrida, ao sol escaldante da região castigada pela seca e pelo Estado, onde o trabalho braçal e as lutas constantes contra a fome imperavam, nascia um Rei. Sim, um Rei. Um Rei que, dentro das frestas de um sofrimento quase cotidiano daquele povo, que dentro das frestas daquelas mãos calejadas, daqueles rostos marcados pelo tempo, pela vida e pelo clima, conseguia, de forma exuberante, instaurar alegria, vida e sorrisos que quebravam da rudez dos rostos queimados e rebentavam sentimentos até então reprimidos.
Não havia lugar melhor pra se nascer um Rei como ele, pois ele com aquela sanfoninha choradeira que só ela e com um triângulo, um gonguê, e um zabumba trouxe pro sul, no seu matulão, a verdade de seu povo. Esse Rei trouxe a verdade da história mal contada e mal vivida pelo povo do sul que nunca pisara pra aquelas bandas de lá. Ele trouxe a alegria de seu povo, trouxe seus problemas sociais, suas paixões, suas resenhas, suas irreverências, seus anseios, suas indignações, suas inocências… E não daria pra ser mais apaixonante o meio pelo qual ele trouxe tudo isso. É um meio que não carece de explicações, pois ele por si só se explica, se identifica, diz seu nome no primeiro fungado de sanfona, que é tão translúcido quanto a personalidade de seu emissor. Sim, eu to falando do Baião. Só um Rei seria capaz de, com tão poucos e simples instrumentos, construir uma simbiose entre esses elementos de uma forma tão sublime. Só um Rei deixaria uma plateia “engomada” esperando seu show no teatro, para tocar na marquise do recinto pros seus tantos súditos que ficaram do lado de fora por não ter condições financeiras pra entrar e ouvir suas poesias em forma de música. Só um Rei conseguiria, despropositadamente, ter suas belas composições sendo tocadas por orquestras sinfônicas em diversos países. Só um Rei consegue transmitir a ideia de uma identidade regional e de orgulho por ser de onde é.
Essa semana se completa 101 anos do nascimento de uma estrela das mais brilhantes que já surgiram nesse céu constelado, e a mim cabe apenas a eterna gratidão pela existência dessa estrela que jamais se apagará, que jamais deixará de existir.
Hoje tenho minha filosofia de vida oriunda, em enorme parte, dos ensinamentos de nosso Rei. Ensinamentos esses que são calcados na simplicidade, no respeito ao próximo, na alegria, na descontração e também na problematização de questões sociais.
Tenho pra mim que teríamos um mundo muito mais harmonioso se tivéssemos um pouco do mestre Lua conosco.
Salve nosso mestre!

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