terça-feira, 4 de dezembro de 2012

Aquele bar já viu cenas melhores



Eu estava ali sentada no balcão escuro daquele bar, sozinha. Na verdade nem tão sozinha assim, pois me lembrava e via cada cena vivida: o primeiro encontro e você dando uma de herói, minha cara feia dizendo que sei me cuidar sozinha, e como prova maior: eu ali, no balcão, sozinha. E também aquela véspera de natal, aquela sexta feira,  você abrindo a porta do carro e eu ironizando "ai meu Deus, ele é cavalheiro!". Eu estava ali pensando em como sempre tivemos papéis invertidos: eu durona e fingindo que não ligava, você fingindo se importar e... e que é melhor deixar essa parte pra lá, já que agora estava ali naquele balcão, daquele bar, sozinha.
Mais uma cerveja, mais uma música boa (mais uma lembrança) e com a mesma cara de durona, como se nada daquilo estivesse sendo revivido por mim logo ali dentro. Tanta coisa que eu tive que matar, mesmo sem querer e acho que era por isso que estava ali, tentando reencontrar outra vez aqueles tempos, aquelas sextas, só o que não esperava era te encontrar ali de verdade.
Só o que eu não esperava era um encontro tão esquisito, cheio de coisas acontecendo nas entrelinhas e nada acontecendo de fato. O modo como você me olhou era tão típico, me quebrava em mil partes em um só instante, me enchia de vontade de que aquilo não estivesse acontecendo (embora  estivesse cheia de vontade de te ter ao alcance dos olhos e das mãos), enquanto você se aproximava, eu tentava (tarde de mais) deduzir o que mais tinha pra dizer.
Já havia imaginado esse momento mais de um milhão de vezes, desde o fim (que não parecia mais acabar, até que o silencio caiu sobre nós, até esse dia), mas não imaginava que aconteceria, não imaginava o que seria dito, não podia imaginar isso, não podia fechar os olhos e te ver, não tinha a menor ideia do que estava pra acontecer ali...
Cada vez mais perto, como se estivesse em câmera lenta, minhas reações congeladas, meu coração disparado, minhas mãos tremendo, você abriu um sorriso, aquele sorriso... Você podia ter só acenado, podia ter feito um gesto torto, podia ter entendido o que isso significou pra mim e ter passado longe, podia nem estar ali, naquele bar. Mas estava e chegava cada vez mais perto, as pessoas em volta viraram borrões, a música virou um barulho surdo, senti minha long neck escorregar, era você que estava a menos de um palmo, pronto pra tocar meu rosto, minha alma em pânico.
Aquela conversa clichê de "oi, tudo bem, como vai, quanto tempo? Desculpe, pago outra cerveja pra você, desce uma aqui pra ela, por favor, na minha comanda!", como é que fomos parar nisso? Quando foi que paramos de nos tratar com aquela intensidade, cada palavra era uma jogada perigosa e agora isso? A última vez que nos encontramos o seu corpo estava em cima do meu, completamente suado, você dizia uma série de absurdos que me arrancavam sorrisos e reações sacanas, nossas mãos não paravam quietas... dávamos um amasso no carro esperando o farol abrir... e agora isso?
Agradeci a cerveja. Perguntei o que estava fazendo ali (nem mencionei o seu namoro, embora quisesse), soltei uma resposta atravessada que mal me lembro qual foi ( prova de que ainda não te esqueci, de que não queria que fosse assim, de que não queria viver essa cena ridícula, queria era agir como sempre agi: ser grossa e te jogar na parede, provocar suas reações, mas era tão tarde pra isso). Você me segurou pelo braço e aquela foi a primeira vez em que não precisei reagir de forma agressiva pra que pudesse entender algo, meu olhar falou em silêncio: "Foi você quem quis assim!".
"Vou nessa..." lembro de ter dito quando puxei meu braço de volta. Sumi no meio da multidão e não te vi mais naquele bar pelo resto da noite.
Definitivamente aquele bar já viu cenas melhores...



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2 comentários:

  1. Não tem como não imaginar, e esses sentimentos que sempre estão por trás de tudo e que sempre nos traem quando não queremos mais ser traídos. É difícil, quando as coisas esfriam tanto assim e principalmente quando um dos dois parece não ligar. você como sempre descrevendo a vida com ela é, nua e crua, dolorida e por vezes um tanto assustadora, mas com aquele orgulho e força que poucas conseguem ter.

    Beijos, saudades de você, mesmo mesmo.

    www.eraoutravezamor.blogspot.com

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  2. Decepcionante.
    Fico as vezes a imaginar quando isso acontecer comigo, será que iremos ficar estáticos ou ele virá em minha direção fingindo que não aconteceu nada. Ou simplesmente me ignorar.

    Nao sei, só sei que tudo isso doí.

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