Docíssimo sal

 Olhando as ondas desse mar de Itaúnas, diferente de todos os mares do mundo (talvez por minha ligação afetiva a esse lugar) acabei por me remeter a uma série de analogias das quais poderia fazer infinitas. Ondas representam ciclo de vida mais belo, ordinário e finalista. Sim, pois elas se formam do nada, crescem, atingem seu estágio máximo de fúria, vão perdendo força e terminam de forma triste recuando e voltando a ser uma nova onda. Algumas ondas se fomam precocemente vem com força mas acabam antes de atingir a orla. Outras se formam já no fim mas não deixam de ser menos belas, apenas tem uma beleza que lhe é peculiar. Outras tentam quebrar e formar o ápice de sua tormenta, porém são muito fracas pra tanto, precisam de mais ousadia e apenas ficam na marola, com a única certeza de que todas se findam nesse projeto terminal de vida que conhecemos. Elas tem personalidade, pois se formam de um jeito quebram de outro e tem colorações diferentes em seu trajeto. Isso é vida! Confesso que quando tô dentro do mar não tenho a mesma sensação de muitos de lavar a alma... isso ocorre comigo quando estou fora dele vendo essas ondas que em outra analogia me lembra situações cotidianas, corriqueiras que hora ou outra surgem uma atrás de mais. Que são boas, que são ruins, que machucam e que nos enchem os olhos.
Ondas que começam a se formar juntas mas do nada uma parte se desenvolve pra um lado e outra pra outro me lembram amizades, relacionamentos que por algum motivo aleatório foi desfeito e que as vezes não se encontrarão mais nessa onda que eles formaram mas só quando eles recuarem e por algum acaso se unirem e irem até o fim seja ele longe ou perto das areias mais secas. Mas o mar é incansável e continuará a produzir ondas, ondas e mais ondas. Diria eu que temos muito a aprender com o mar, basta olharmos com a profundidade de abstração que ele pede. Meu nível de abstração pra tanto ainda é baixo, confesso, mas tenho a percepção concreta de que o mar é sábio.

                                                  

PS: Agradecimento todo especial a Luciane Feire que gentilmente cedeu a Ilustração.