Meu texto de hoje vai permear um
caminho diferente dos que costumo escrever aqui no blog, pois estes
geralmente são cheio de metáforas, hipérboles, sinestesias outras
figuras de linguagem e demais elementos. Mas diante do ocorrido ontem
que me levou a refletir o dia todo, eu me senti na obrigação de
expressar tudo que senti e vi depois de ter feito um debate em uma
escola com alunos de um projeto do qual faço parte. O assunto era
cotas raciais. Pois bem, a questão das cotas não vem ao caso no
instante, minha abordagem vem mais de encontro aos relatos desses
jovens negros.
Em meio a esse debate sobre cotas,
inevitavelmente caminhamos pra questão do racismo e ouvir aqueles
jovens falando foi ao mesmo tempo uma das melhores experiências que
tive enquanto pessoa (e como docente a melhor experiência, haja
vista também minha baixa experiência como professor), mas do mesmo
modo foi doloroso ouvi-los falando absurdos a respeito de
preconceitos raciais que sofreram.
Uma aluna negra contou, na roda que
fizemos, os diversos tipos de preconceitos que sofre desde o momento
em que não é atendida numa loja, até pessoas que a chamam de
macaca, de cabelo ruim dentre outras escrotices possíveis
relacionadas a cor de sua pele. E ver um outro aluno relatando com
dor o fato de sofrer racismo em diversas situações também me
chocou. Bem, eu sempre tive noção de que o Brasil é um país
racista, de que negros sofrem com isso e tudo mais, mas ontem foi
diferente em diversos aspectos, e em função disso resolvi me
colocar no lugar de um negro e pensar como seria ser negro, não só
no Brasil, mas em qualquer lugar do mundo, pois o preconceito racial
não é endêmico.
Bem, eu me autodeclaro pardo, apesar
de muitos me considerarem branco por tentar me aproximar do “melhor”
como sempre fazem. Assim me dizem que não sou pardo, mas que sou
branco por não ter taaaanta melanina dando o ar de sua graça em
minha pele assim, né? Mas eu também sofro preconceito, não o
racial, mas o social. O meu acesso à cidade, tão discutido nos
meios acadêmicos e movimentos sociais, é um dos casos. Já sofri
preconceito nas regiões da Faria Lima, Higienópolis, por exemplo.
São ambientes hostis, que te expulsam, quase que a ponta pé, desses
territórios dessa elite escrota de São Paulo E diante dessas
situações de discriminação eu me senti extremamente ofendido,
acuado num ambiente que não parecia ser de meu pertencimento, porém
eu ainda tenho meu território, meu lugar, pois sei que eu saindo dos
Jardim Europa da vida, se eu estender o braço para um táxi às 3 da
manhã, esse táxi tem a probabilidade de 90% de chance de parar,
pois eles vão se valer do fato da minha cor de pele BRANCA pra assim
decidir parar o carro, mas e para um negro será que esse mesmo táxi
pararia? Eu nunca sofri enquadro policial muito menos tomei um tapa
na cara de um deles, mas aposto que se você conversar com algum
negro a probabilidade de ele falar ao menos um “sim, já fui
abordado” é muito grande e não se espante se esse enquadro, por
um acaso, for na região onde ele mora. O que me leva a concluir que
se eu, “branco” e pobre, não quiser sofrer com preconceitos, eu
tenho a possibilidade de não frequentar esses territórios elitistas
e assim não sofrerei com isso, perderei meu acesso à cidade, fato,
mas não serei discriminado, porém o negro sofrerá preconceito
tanto no Jardins como na esquina de casa. O racismo vem de todos os
lugares da cidade, do mundo, dos meios de comunicação, da porta
giratória do banco, da perseguição a ele de um funcionário dento
de uma loja, e etc, etc, etc. Esse tipo de desmoralização pode
ocorrer a qualquer hora, em qualquer dia, em qualquer lugar a uma
pessoa negra, isso quando não são vitimadas de assassinatos. Isso
deve ser aterrorizante. E se adequar a essa situação, porém não
tolerá-la e lutar contra, parece ser a única saída, porque senão
você enlouquece pensando numa possível discriminação.
Os negros são desterritorializados,
sem seus redutos, sem sua história contada, sem seus mártires, seus
heróis, suas referências. Eles não possuem refúgios, são
obrigados a conviver cotidianamente com os olhares tortos de
populares, com o medo de andar pelas ruas escuras de casa e dar de
cara com algum policial ávido por assassinar um negro, com as
“brincadeiras” de cunho racista, com eufemismos do tipo
“moreninho”, “escurinho”, “homem de cor” que revelam um
racismo velado de uma sociedade hipócrita que não assume seu desvio
de caráter.
Pra quem nunca fez esse trabalho de
tentar ao menos se imaginar como seria viver protegido por uma pele
preta por um dia que seja, o faça. Evidente que nunca terão a
dimensão da intensidade da dor de sofrer um ato racista, mas
certamente notarão como é dolorido ser negro em uma sociedade que
não os aceita, simplesmente os tolera… ou às vezes nem isso.https://www.youtube.com/watch?v=cljZoDmZubw
Disse tudo!!!
ResponderExcluirPorém, talvez devêssemos pensar nisso não só em relação aos negros...
O problema não é apenas com a cor de pele, é o problema com o homem/mulher tatuada, é a opção sexual de fulano ou ciclano...
O preconceito está em todo lugar...
Não acredito que devam existir leis e afins para se proteger pessoas do preconceito, devem existir ensinamentos onde as pessoas aprendam a respeitar qualquer pessoa, sem se preocupar se ela é branca, parda, amarela ou negra...
Sem questionar sua opção sexual, sua escolha de roupas e/ou profissão...
O problema é que a humanidade ainda tem muito o que aprender, evoluir...
Gostei daqui!!!
Bjo, bjo!!!