Sentado
na poltrona da sala acendi um cigarro, dei um primeiro trago e
pus-me a divagar sobre o que escrever. O papel e a caneta se encontravam a
minha frente e esperavam ansiosamente que eu os assumissem e
derramasse toda minha tristeza sobre eles(sim, pois todos
que se atrevem a escrever são
tristes,
indispensavelmente).
Porém, continuei a olhá-los
sem saber por onde começar. A tristeza estava presente como principal
elemento para o desabafo e a reboque a reflexão do meu
mundo, só que nada e tudo
me veio a cabeça. É como se eu tivesse todas as ideias possíveis,
porém elas são
bloqueadas por
si mesmas.
Logo
em seguida o segundo cigarro
já estava a boca. Dessa vez acompanhado de um Uísque vagabundo, mas altamente
embriagável, que era o que de fato importava. Uma luz sutil me veio a
mente. Num ritmo blasé saí
do recosto da poltrona, estiquei meus braços e tomei
os papéis e a caneta,
postos a mesa de centro, em
mãos. Acendi
a luminária em cima do
criado-mudo ao lado da
poltrona, pus meus óculos
e iniciei a escrita. As palavras saiam, voavam, me tocavam, se
tocavam, mas no instante
seguinte tudo novamente desaparecia.
Após
muito morder as hastes do óculos como expressão de pensar em algo
para por no papel, comecei a
escrever sobre minhas
complexas desilusões
amorosas, mas estava tomado por uma racionalidade indesejável e
asquerosa que me fez cessar a escrita. Às vezes acho que a razão é
a coisa mais triste que o ser humano pode ter. Agir 100% com razão
te faz perder a essência da
vida, você deixa de ser humano
e passa a ser qualquer coisa, menos humano.
Já que estava sem inspiração pensei em escrever qualquer coisa que não houvesse relação necessária com a bendita da inspiração. Comecei a escrever sobre a geopolítica na América latina, mas depois notei que isso não fazia o menor sentido, foi a coisa mais descabida que já tentei escrever na vida, não condizia com meu estado de espírito do momento.O desespero para que algo saísse no papel era tão grande que qualquer coisa que pudesse parecer reconfortante era bem-vinda, mas não era o caso, então cessei a escrita novamente.
Pois
bem, outras ideias surgiram e comecei a escrever, porém a escrita
era tão chula com termos tão horríveis, que pedir desculpa pro
papel por tê-lo usados de forma tão obtusa foi considerado
necessário por mim.
Quando
já estava no sexto cigarro e com um certo nível de embriaguez, as
coisas começaram a fluir. Veio todo tipo de pensamento possível e
nobre. A escrita era bela, meus olhos brilhavam ao
escrever na sala iluminada apenas pela luminária. Não existia mais
nada além de mim, do papel e da inspiração. Eu juro que viveria
assim eternamente, sem precisar de mais nada no mundo. O gozo, a
sensação que se tem no momento é de
êxtase, de encontro com outro plano espiritual. Na minha escrita eu
gritava, saltava, dançava, corria, pulava… Era
um ponto de felicidade que lutava para emergir
em meio a um mar de
tristeza.
Assim,
a última canetada pôs fim ao texto, e com uma releitura básica do
que foi escrito, um alívio
enorme pelo desabafo e um sorriso tímido no rosto, levantei-me
da poltrona e segui cambaleante
em direção ao quarto. O que foi escrito não é de fato importante,
o que vale é caí na cama, joguei
o papel e a caneta não sei onde e dormi como nunca antes. Ao
acordar não achei mais o bendito texto no papel, porém
pouco me
importava, ele já não era
mais necessário
pra
mim.
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