Tudo está lá. Nossos medos, nossos traumas(consciente ou não), nossos momentos felizes, nossos passados de amores avassaladores e de tristezas imensuráveis. Perder a memória seria como perder o norte, o sentido da vida, perder a dignidade, perder o que se construiu. Perder o amor, perder o calor… Sim, o amor, o calor, pois a perda de memória nos faria ter que reconstruir tudo isso que foi conquistado de maneira nobre.
Em um outro filme, esse com maior aporte intelectual, por nome de “Blade Runner, O Caçador de Andróides ” me fez refletir esse tema também, porém não com a mesma sensibilidade em que me encontro agora. Pois bem, as referências constantes a memória implantadas nos "replicantes" demonstra a importância dela na construção do sentimento, pois era o que faltava pra que as emoções aflorassem, o que é completamente plausível, pois um sentimento é construído e reconstruído dia após dia e sem identidade ao longo do espaço e do tempo é algo que, convenhamos, é de difícil resolução.
Há algo que também sou avesso (embora explore raríssimas vezes, mas exploro, confesso) que é a questão das selfies e fotos feitas descontroladamente. Os registros fotográficos vem ganhando espaço dos registros mentais. Tornou-se de importância ímpar registrar momentos sublimes através de fotos em detrimento do seu registro mental, e o resultado disso acaba por tornar esse momento que deveria ser único em um momento de recordação através de fotos e que em última instância resulta em momentos frios, impessoais, insossos sem apelo a memória, pois não soube dizer o que sentiu no momento em que estava mais preocupado com as redes sociais e seu status diante de todos (o que daria uma boa discussão também, porém não quero perder a linha do tema em pauta) do que com o enriquecimento de sua subjetividade. Veja, não é querer tirar a importância de uma foto, mas sim saber dosar seu uso que vem ganhando proporções amedrontadoras. “Esse momento merece uma selfie”. Quem nunca ouviu isso?
Estamos banalizando a memória, dando espaço reserva a sua importância. O estudo de disciplinas como a historia, que é importantíssimo para que nos situemos em nosso passado e consequentemente saibamos qual a identidade do nosso povo, é sintomático. Não há nada mais comum que ouvir a colocação " pra que estudar história? já passou, é coisa velha".Ora, é partindo desse ponto que saberemos quais atitudes tomar para que erros passados não se repitam.
Pensamos muito no nosso futuro, porém nos esquecemos que é do nosso passado que extraímos tudo o que somos e toda nossa jornada construída. Muitas vezes é lá que se encontram as respostas de nossas angústias, mas damos de ombro a isso, pois o mundo atual nos faz pensar no agora, no já e o que passou, passou.
E assim caminhamos para o abismo da frialdade e do desespero pela falta de identidade que certamente nos enlouquecerá. E nesse caminho que estamos seguindo é realmente uma pura questão de tempo.
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